quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

MEDO DA MORTE OU MEDO DA VIDA

"Ora, Deus não é Deus de mortos, e sim de vivos; porque para ele todos vivem".(Lucas 20:38)

O medo da morte nos impede de viver a plenitude do presente da vida e a ela darmos graças todos os dias.

Alexander Lowen, terapeuta reichiano, dizia em sua obra "Medo da Vida" que no mais profundo quadro de medo de viver existe o medo de morrer. Parece que quando estamos felizes, vivos, alegres, alguma coisa ruim vai acontecer. "A alegria de pobre dura pouco" diz o provérbio popular. Com isso, deixamos de usufruir a graça de Deus no presente e nos tornamos pessoas neuróticas, tensas, ressabiadas, sempre esperando algo sinistro ou guardando dinheiro "para quando adoecer".

No Cristianismo tradicional (católico, ortodoxo e protestante), podemos beber das Escrituras Sagradas o testemunho da vitória da Vida sobre as forças demoníacas da morte. Aquele que tem fé não teme a morte e, se necessário for, entrega-se a ela na esperança da "ressurreição", convicto de que a morte não é a última palavra. Ainda assim, o mais comum é conhecermos cristãos que tem horror só em pensar na morte. Incoerências da fé.


O materialismo, a indiferença, o consumismo doentio e toda uma cultura ocidental de hiper-valorização das formas corporais vem trazendo um novo tipo de apego ao corpo, a matéria, a vida aqui-agora, a juventude eterna (vejamos as inúmeras cirurgias plásticas) etc. A velhice, as dores e sofrimentos comuns à existência humana, os funerais, os velórios, enfim, tudo que lembra a morte está sendo banido da vida comum. O problema é que quanto mais expulsamos a morte, mais ela retorna, pela porta dos fundos, como um fantasma para nos assombrar. O retorno do recalcado (Lacan) é mais doloroso ainda.



Ramatís, no livro "A sobrevivência do Espírito", faz uma comparação interessante entre a cultura ocidental e oriental, generalizando:


"Certos povos orientais têm pouco apego à vida física, em comparação com os da civilização materialista da Ocidente que, em sua aparência religiosa, oscila num contínuo misto de descrença e temor, sem força suficiente para sobreviver ao medo da morte. Devido à facilidade intuitiva com que os povos asiáticos admitem a sobrevivência da alma e a reencarnação, atribuem pouco valor à vida corporal e quase não temem a morte. Daí a existência do haraquiri, suicídio muito comum no Oriente e dependente da psicologia desse povo, que mais o pratica como um desagravo de tradição secular do que mesmo como ato de rebeldia para com a vida física. A convicção da imortalidade e da reencarnação do espírito enfraquece o tradicional pavor da morte, como sucede com os espíritos estudiosos, que já não pranteiam tão escandalosamente a desencarnação da sua parentela, o que ainda é muito comum entre os religiosos dogmáticos e assustados pelas proibições infantis do sacerdócio sentencioso. A doutrina espírita muito contribui para um conhecimento mais valioso da criatura a respeito do valor da vida, e as estatísticas já comprovam que é inexistente a prática do suicídio por parte do espírita conscientemente convicto de sua realidade imortal. (...) Os cristãos [primitivos] morriam nos circos romanos de modo imperturbável, porque não acreditavam na morte da alma".

Nós, ocidentais, ainda vivemos apavorados pela idéia da morte, da decrepitude, pois não temos uma fé que aponte para a vida além da vida, para a valorização do prazer e da alegria (em tudo dando graças!), sem neuroses quanto a inevitabilidade da morte. O materialismo ateu pode nos acarretar um processo neurótico de evitação da morte que acaba nos embaraçando a própria vida aqui. E quando falo em materialismo ateu, estou incluindo muitos que teoricamente dizem ter fé, mas na prática, apavoram-se diante de uma mínima lembrança de morte ou fim existencial.

Penso que se faz urgente um grande trabalho de espiritualização das pessoas, não estou dizendo "conversão religiosa". Espiritualizar é se libertar do medo da morte, na convicção de que a vida é eterna e tudo que vivemos aqui faz parte de nossa bagagem milenar, pois estamos crescendo, aprendendo e avançando, alguns mais rapidamente, outros com passos vacilantes. Essa espiritualização do ser nos proporcionará uma vida menos neurótica, mais centrada no hoje e sem temores quanto ao amanhã, assumindo nossas responsabilidades diante da LEI DE DEUS que é Lei da Vida, ação e reação. Essa foi a percepção de Otília Gonçalves, no livro "Além da morte", psicografado por Divaldo Pereira Franco:


"É inadiável e urgente o trabalho de espiritualização. Essa valiosa tarefa deve começar o quanto antes, consoante o ensinamento do Senhor: “enquanto estamos no caminho”, entre os homens. As falsas concepções prendem-nos a sofrimentos que se prolongam indefinidamente, depois que o espírito abandona o fardo carnal. É imperioso o trabalho de esclarecimento de almas, vencendo os apegos perigosos que dificultam a marcha ascensional e ensinando a todos os homens que o fenômeno da morte é o mesmo fenômeno da vida".


O fenômeno da morte é o mesmo fenômeno da vida, apenas mudamos de moradia e tudo prossegue. Ao pensarmos desta maneira, temos como pano de fundo a crença bíblica de que o DEUS que cremos é um Deus de vivos e não de mortos, porque para Ele "todos vivem". Jesus Cristo está vivo, como prova de que a morte não é mais motivo para temores. Assim crendo, temos paz em nossos corações e nos reconciliamos com o Senhor da Vida. Vivamos com amor e responsabilidade, pois o amanhã pertence ao Senhor. Somente Ele sabe a nossa hora de partir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário